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Foto do escritorRodrigo Gouveia

Uma história de humanos muito estranhos


Relatório 73Y12

Desde que aqui cheguei, o planeta já rodou sete vezes sobre si próprio, aquilo a que os habitantes chamam uma semana. Mais à frente explico esta estranha maneira que eles têm de contar o tempo.

Adotei a forma da espécie animal que me pareceu mais inteligente, os que se chamam a si próprios humanos ou pessoas, um grupo de mamíferos primatas pouco evoluídos. Apesar de serem a espécie mais inteligente do planeta, isso não significa que sejam muito inteligentes, e a pouca inteligência que têm usam-na de uma forma invulgar e, por vezes, absurda, como lhes vou dar conta.

Por exemplo, para além de utilizarem os seus próprios membros para se movimentarem, como muitas outras espécies por esse universo fora, constroem máquinas que os transportam de um lado para o outro, pela terra, pela água e pelo ar. Nenhum outro ser vivo no planeta faz a mesma coisa. É por isso óbvio que os humanos não têm a menor ideia da existência de portais energéticos, nem da possibilidade de migração celular que nós utilizamos para nos movimentarmos.

Os humanos estão tão dependentes destas máquinas que os transportam que, por vezes, têm de pedir uns aos outros que os levem a qualquer lado.

Têm uma coisa a que chamam táxi que funciona assim: uma pessoa pega num pequeno instrumento que chamam telemóvel, um género de computador muito básico, e através dele pede a outra pessoa para o ir buscar a um sítio e depois o deixar noutro com a sua máquina de transporte terrestre que chamam carro.


Têm também uns veículos maiores para transportar muitas pessoas ao mesmo tempo, que chamam autocarros, mas, nesse caso, a pessoa não pode escolher onde quer ficar tendo de se sujeitar a paragens pré-determinadas.

Para além disso, têm grandes máquinas que transportam pessoas pela água, que chamam barcos, e pelo ar, que chamam aviões.

Como podem imaginar, estas máquinas consomem imensa energia e, para as fazer funcionar, os humanos utilizam recursos do próprio planeta que depois não conseguem renovar. Ou seja, dentro de poucos anos, se não fizerem as coisas de forma diferente, vão ficar sem recursos e destruir o próprio planeta. É uma loucura!

Quando não usam as máquinas e se deslocam usando as próprias pernas, também gastam muita energia e, por isso, passam a vida a comer para recuperar a energia gasta. Pois é, ainda nenhuma das espécies neste planeta descobriu que podem gerar energia a partir da sua própria reprodução celular e que, por isso, não precisam de comer. Quem mais sofre com este sistema são as crianças que, muitas vezes, são obrigadas a comer mesmo não tendo vontade.

Os humanos comem, mas como não conseguem processar todos os componentes da comida, emitem dejetos que saem por um buraco traseiro. Como sabemos, esta é uma característica de muitas espécies no universo, mas ao contrário do que acontece em outros lugares, neste planeta os dejetos cheiram muito mal. E, para além dos dejetos sólidos, os humanos e outros animais emitem gases que cheiram ainda pior. Como isto é raro no universo conhecido, levarei comigo uma amostra que recolhi do próprio corpo em que me instalei. Já agora, devo dizer, este corpo é muito desconfortável.

Termino o meu relatório com outro facto curioso: estes humanos têm uma forma muito esquisita de medir o tempo. Em vez de contarem os períodos de rotação do planeta, aquilo a que chamam dias, de forma seguida e sem interrupções, não. Ao fim de uma certa sequência de dias, a que chamam mês, voltam ao início. Por exemplo, começam a contar de 1 até 31 e depois, em vez de 32, voltam ao 1. E fazem-no sem qualquer lógica: o primeiro, terceiro, quinto, sétimo, oitavo, décimo e décimo segundo meses têm 31 dias, mas o quarto, sexto, nono, e décimo primeiro só têm 30. E, para complicar as coisas, o segundo mês, a que chamam fevereiro, tem 28 dias durante três anos, mas a cada quatro anos tem 29 dias! Muito confuso.

Para desorientar ainda mais, usam padrões diferentes e sem sentido: 1 dia tem 24 horas, 1 semana tem 7 dias, 1 ano tem 12 meses, 52 semanas ou 365 dias, mas pode ter também 53 semanas e a cada 4 anos tem 366 dias. A palavra dia é usada para referir o tempo que o planeta demora a dar uma volta sobre si mesmo, mas também o período de tempo em que existe luz natural. Quando a luz natural desaparece, o dia passa a chamar-se noite. Curiosamente, o dia começa a meio da noite, a uma hora que, apropriadamente, chamam meia-noite. Mas, não é estranho começar o dia precisamente quando se está a meio da noite? Não percebo. Enfim, parece que usam a pouca inteligência que têm para complicar as coisas que são simples.


Outro exemplo, constroem máquinas com inteligência artificial a que chamam computadores, muito rudimentares, com menos inteligência que eles próprios e, no entanto, preferem usar essas máquinas em vez de explorarem o potencial do seu cérebro. Pelos meus cálculos, a pessoa média usa apenas 0,2% da sua potencialidade.

Por tudo isto, a minha recomendação é deixar este planeta de fora da nossa civilização. Ao ritmo evolutivo em que se encontram, ainda vão demorar trezentos e setenta e cinco mil milhões, setecentos e quatro dias até estarem prontos a aceitar o contacto com uma civilização como a nossa, se, entretanto, não destruírem o planeta. Se aparecêssemos neste momento, provavelmente considerar-nos-iam uma ameaça e tentariam eliminar-nos em vez de aceitar a nossa ajuda.

Terminado.

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