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Foto do escritorRodrigo Gouveia

Uma história de tubarões


Num cardume de tubarões-brancos, os nomes dos que nascem são escolhidos de acordo com algum aspeto físico que os caracteriza.

Os tubarões-brancos não têm nomes absurdos como Sílvia, Joaquim, Elisa ou Miguel. Nada disso. Chamam-se Focinho Torto, Olho Rasgado, Dente Rachado e outros que tais.

Um dia, a Barbatana Grande teve uma ninhada de três tubarões. Ao primeiro deram o nome de Mancha Cinzenta e ao segundo o de Boca Larga. Quando nasceu o terceiro todos hesitaram. Era o mais pequeno tubarão-branco que alguma vez tinham visto.

Por fim, um deles sugeriu chamarem-lhe simplesmente Pequeno Tubarão. Logo a seguir, outro tubarão argumentou que pequeno não descrevia bem o tamanho reduzido do jovem e que era melhor chamarem-lhe Pequenito. Mas o pai do recém-nascido achou que mesmo isso não descrevia realisticamente o seu filho e decidiu chamá-lo Pequenitozito.

O Pequenitozito era um tubarão-branco muito feliz. Adorava nadar e brincar com os seus primos, tubarões de outras espécies, que gostavam muito dele e não se sentiam intimidados pelo seu tamanho como acontecia com outros tubarões-brancos.

Mas a verdade é que, por vezes, se sentia desanimado por ser tão pequeno. Enquanto os seus irmãos já se deleitavam com peixes grandes, como o atum e o bacalhau, Pequenitozito tinha de se contentar com sardinhas e carapaus.

“Será que nunca vou crescer?”, perguntava ele à mãe e a outros peixes seus amigos. Todos eles queriam dizer-lhe que sim, que não se preocupasse, mas não o faziam porque nunca tinham visto um tubarão-branco, com aquela idade, ser tão pequeno.

Um dia, o cardume de Pequenitozito foi apanhado por uma rede de pesca. Um barco de caça ao tubarão, com redes de malha de aço tão fortes que nem os maiores tubarões-brancos conseguiam destruir, capturou-os para os vender a um colecionador.


As poderosas redes apanharam o cardume inteiro e, por mais que os tubarões se debatessem, não se conseguiam soltar. Só o Pequenitozito, por causa do seu tamanho, conseguiu esgueirar-se por um buraco mais largo nas malhas de aço.

De fora da rede, no entanto, Pequenitozito não sabia o que fazer. O barco recolheu a rede, puxando-a para junto do casco, e levou-a a seu lado como as mães tubarão fazem com os seus filhotes até eles aprenderem a caçar sozinhos.

Pequenitozito ficou triste ao ver o barco afastar-se carregando toda a sua família.

De repente, teve uma ideia genial. Nadou a toda a velocidade para junto dos seus primos tubarões-martelo, depois falou com os primos tubarões-azuis e com os tubarões-tigres e com os tubarões-castanhos, todos seus grandes amigos, e juntou um fabuloso exército de tubarões.

Juntos, foram em direção ao barco de pesca e tentaram destruir a rede que prendia o cardume de Pequenitozito, mas, apesar de serem numerosos, não tiveram sucesso.

Tentaram então destruir o barco, arremetendo contra ele por todos os lados. Mas o barco, feito de metal e pesando várias toneladas, não se mexeu mais do que o baloiçar das ondas.

Pequenitozito reuniu-se com os amigos e encontraram um novo plano. Agarrariam a rede com as suas poderosas mandíbulas e puxariam até ao barco virar de lado. Isso, decerto, libertaria os prisioneiros.

Agarraram-se todos à rede e puxaram com toda a força. O barco baloiçou para o lado, alarmando a tripulação, mas não virou. Puxaram novamente, com forças que nem sabiam que tinham, e o barco baloiçou de novo. Mas não virou.

O capitão do navio começou a ficar preocupado. Depois de tantos anos no mar, nunca tinha visto tal coisa. Ordenou aos seus homens para dispararem alguns arpões para dispersar os tubarões. Assim que sentiram o perigo, fugiram para todos os lados e o barco seguiu o seu rumo.

Pequenitozito ficou desanimado e cada vez mais triste. A sua mãe, Barbatana Grande, apesar da terrível situação em que se encontrava, tentou encorajá-lo.

- A tua ideia foi muito boa Pequenitozito, - disse ela. - Talvez só faltasse mais um tubarão para conseguir virar o barco, como naquela história que eu te costumava contar do ratinho que puxa toda a gente e finalmente consegue desenterrar o nabo gigante.

Os olhos de Pequenitozito abriram-se largamente. Era isso mesmo! A sua mãe tinha encontrado a solução, mas não era de um ratinho que ele precisava.

Foi depressa ter com um dos seus primos, Cauda Abaulada, e explicou-lhe a situação. O primo torceu o focinho.

- Sabes que normalmente nós não queremos ter nada a ver com os grandes tubarões-brancos, - disse Cauda Abaulada. - Mas como tu és um grande companheiro, muito simpático e amigo, vou falar ao meu pai, Barriga Gorda, e ver se ele pode ajudar.

Barriga Gorda também não gostou muito da ideia de auxiliar tubarões-brancos, as suas famílias andavam zangadas há séculos, mas gostava ainda menos da ideia dos seus primos serem capturados pelos humanos e, por isso, concordou em ajudar.

Lá foram novamente os tubarões agarrarem-se a rede onde a família de Pequenitozito continuava presa, aproveitando enquanto os tripulantes estavam distraídos.

Começaram a puxar e o barco oscilou de tal maneira que a tripulação caiu toda para o lado e apanhou o maior susto das suas vidas.

O barco não virou, mas foi por muito pouco. Mais um puxão daqueles e poderia ser um grande problema.

O capitão e os seus homens debruçaram-se pela amurada para ver o que se passava e ficaram atónitos ao ver uma multidão de tubarões de todas as espécies comandada por um enorme tubarão-baleia!

- Soltem a rede, depressa! - Gritou o capitão, pois essa seria a única forma de evitar um desastre.

Os homens obedeceram rapidamente e suspiraram de alivio ao ver o cardume de tubarões brancos afastar-se do barco junto com os outros. A família de Pequenitozito estava livre.

Dois dias depois, o Pequenitozito começou a crescer e hoje é um tubarão-branco de tamanho médio, nem grande, nem pequeno. Seja como for, isso não interessa, porque tal como Pequenitozito aprendeu, se por vezes é bom ser grande, outras é melhor ser pequeno. E o mais importante de tudo, é ser-se um bom amigo.

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