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Foto do escritorRodrigo Gouveia

Uma história de peixes piratas

Atualizado: 18 de abr. de 2020

Vou contar-te uma história sobre peixes piratas que me foi contada pelo meu filho de oito anos e que, por isso, deve ser verdadeira, não achas?

Sabias que existem peixes piratas? Eu não sabia. E sabes como distinguir peixes piratas de outros peixes?

É fácil, os peixes piratas são os que têm barbatanas-de-pau, olhos-de-vidro e caras de maus. Até podem ter caras de maus, mas, na verdade, os peixes piratas não são maus. São piratas porque são corajosos e aventureiros e, às vezes, não gostam muito de cumprir regras, por exemplo quando as suas mães lhes dizem para arrumar todos os brinquedos que deixaram espalhados no fundo do mar.

A única exceção à regra de não serem maus são os tubarões piratas. Esses são mesmo maus. Já com os tubarões normais é difícil encontrar um que seja bonzinho, mas com os tubarões piratas isso é impossível. Por isso, todos os outros peixes, sejam piratas ou não, lhes têm medo.

A razão pela qual provavelmente nunca viste nenhum peixe pirata, nem no mar, nem no supermercado, é que os peixes piratas são tão espertos que nunca se deixam ver, nem apanhar.

Vamos então começar a história.

No mar entre a Madeira e os Açores vive um peixe-pirata que se chama… que se chama…

- Miguel, como é que se chama o peixe?

- Roberto!

Roberto, é isso mesmo.

O Roberto e os amigos gostam muito de aventuras e estão sempre à procura delas.

Um dia o Roberto estava a jogar às escondidas com os amigos e, entre as rochas onde se escondeu, encontrou um mapa de tesouro.

O mapa parecia muito antigo e, por incrível que pareça, resistiu durante muitos anos, debaixo do mar, sem se estragar. Talvez tivesse caído de algum navio pirata que por ali passou há muito tempo.

O Roberto, que era bom a ler mapas, percebeu logo que o tesouro estava enterrado no fundo do mar e não numa ilha deserta, como às vezes se vê nos filmes.

Isso era uma boa notícia para os peixes piratas pois assim podiam ser eles a recuperar o tesouro.

O único problema era que, de acordo com o mapa, teriam de atravessar uma zona que normalmente estava cheia de tubarões piratas. E, como já se disse, esses são muito maus.

Os peixes piratas encheram-se de coragem e começaram a preparar a viagem, cada um deles levando aquilo que lhe parecia ser mais importante.

Segundo as contas de Roberto, a viagem não deveria levar mais do que dois ou três dias.

Começaram a nadar com energia, mas à medida que as horas iam passando, a água ia ficando cada vez mais fria e todos se começaram a queixar, menos o Silvio, um salmão cuja família tinha migrado da Noruega e que, por isso, estava habituado àquela temperatura.

Roberto, farto de ouvir as queixas dos amigos, disse:

- Pelos menos ainda não encontrámos tubarões piratas!

E assim que o disse, apercebeu-se que tinha feito um erro. Se a água estava a ficar mais fria isso significava que estavam a nadar para Norte, onde não haviam tubarões. Mas, de acordo com o mapa, eles tinham de passar pela zona de tubarões que ficava… a Sul! Roberto olhou novamente para o mapa e verificou que, afinal, estava a vê-lo ao contrário.

Tiveram que inverter o rumo e Roberto não se escapou de ouvir uma quantas “bocas” dos amigos.

Passaram-se mais algumas horas sem que nada de especial acontecesse, mas quando todos já pensavam que encontrar o tesouro ia ser canja, apareceram ao longe as silhuetas assustadoras de tubarões piratas.

Em poucos minutos, Roberto e os amigos estavam cercados de tubarões ameaçadores.

O chefe deles, chamado Tiago, avançou para Roberto e disse com uma voz feroz:

- Que estão a fazer aqui? Estas são as nossas águas e por aqui ninguém passa sem pagar portagem ou sem ser comido.

- Eu não quero ser comido - disse logo Roberto e todos os seus amigos acenaram como quem diz, nós também não!

- Tens sorte que acabámos mesmo agora de comer um banquete e não temos muita fome. Desta vez deixamo-vos passar se tiverem alguma coisa com que nos pagar.

Roberto não queria contar aos tubarões sobre a existência do tesouro porque sabia que eles ficariam com tudo sem partilhar nada. Pois é, como já disse, os tubarões piratas são mesmo maus.

Mas como também já disse, os peixes piratas são muito espertos e, por isso, tinham trazido com eles objetos que pensaram iriam agradar aos tubarões.

O Carlos, um carapau magrinho de olhos esbugalhados, tirou da sua mochila um cavalo-marinho de peluche. Eu não sabia, mas parece que todos os peixes, sejam piratas ou não, têm peluches favoritos.

O Tiago ficou irritado quando viu o pequeno brinquedo e gritou:

- Um peluche? Deves estar a gozar comigo! E sabes o que faço aos peixes que gozam comigo? Como-os de uma só dentada!

Abriu a boca gigante de dentes afiados, preparando-se para engolir o pequeno carapau, quando, de repente, o Teodoro, um dos tubarões mais velhos, disse:

- Pára! Esse peluche é igualzinho a um que eu tinha quando era pequeno. Eu adorava esse peluche. Eu fico com ele. Não o comas.

Pois é, todos os peixes têm peluches favoritos, até os tubarões piratas.

- ‘Tá bem, ‘tá bem. - Disse Tiago pouco satisfeito - mas isso não é suficiente para eu vos deixar passar.

Nesse momento, a Sara, uma sardinha pequena e roliça, tirou da sua sacola um conjunto de bonitas palas de pirata que ela própria tinha feito e decorado.

Os tubarões piratas que tinham apenas um olho - e eram muitos, porque andam sempre à luta - ficaram fascinados com as belas palas que iriam servir para tapar os buracos feios onde antes tinham estado olhos. As palas iriam dar-lhes um ar de piratas modernos e na moda.

Mesmo assim, o Tiago não estava satisfeito:

- E para mim? - perguntou com o seu vozeirão - Eu tenho dois olhos, não preciso de pala e não gosto de peluches. Não há nada para mim?

Foi então que o Luís, um linguado comprido e fininho, mostrou ao Tiago uma lima que tinha apanhado no fundo do mar.

- Para que quero isso? - Perguntou o Tiago

- Isto é muito útil para tratar dos dentes - explicou o Luís - podes afiá-los e limpá-los. Terás os dentes mais fortes e afiados dos sete mares!

Podia ver-se nos olhos do Tiago que ele tinha gostado muito da prenda, mas mesmo assim não quis dar parte fraca e disse como se estivesse chateado:

- Não é grande coisa, mas está bem. Desta vez deixo-vos passar.

Os amigos já se preparavam para recomeçar a viagem, quando Roberto se lembrou que, depois de encontrarem o tesouro, teriam de voltar pelo mesmo caminho e, nessa altura, só teriam mesmo o tesouro para pagar a portagem aos tubarões.

Roberto pensou alguns segundos e teve uma ideia.

- Olha Tiago - disse ele com voz séria - tenho de avisar-te que quando vínhamos para cá vimos um grande número de barcos de pesca a navegar nesta direcção. Eram mesmo muitos, - mentiu com convicção - se calhar é melhor vocês irem para outras águas durante dois ou três dias até a coisa acalmar.

- És capaz de ter razão, - disse Tiago - de qualquer forma, estávamos mesmo a preparar-nos para ir de férias para o mar das caraíbas. Dizem que é um bom sítio para piratas.

Roberto e os amigos ficaram satisfeitos com o que ouviram e decidiram seguir viagem.

Nadaram mais um dia até chegarem ao sítio onde o mapa indicava estar o tesouro enterrado.

Quando chegaram deram-se conta que encontrar o tesouro não ia ser fácil. Por onde começar? Não podiam escavar toda a areia do fundo do mar e nem sequer tinham um detetor de tesouros ou mesmo pás para cavar. Não, não ia ser fácil.


Quando já pensaram em desistir, apareceu um grande e velho bacalhau que reparou na tristeza dos peixes piratas.

- Olá, eu sou o Bonifácio! - disse o bacalhau simpaticamente - Que fazem por aqui?

- Nada, nada… - disse Roberto com uma lágrima no olho.

- Aposto que andam à procura do tesouro dos piratas! - Disse o velho bacalhau, para surpresa de todos.

- Tu sabes do tesouro? Sabes onde está? - perguntaram em coro os peixes incrédulos.

- Claro. Não é um grande segredo nestas águas. Venham comigo, eu mostro-lhes.

Nadaram mais um pouco até chegarem a umas rochas que faziam um círculo à volta de um pedaço de areia, no meio do qual se encontrava um velho baú.

- Ei-lo. Está cheio de moedas de ouro e é todo vosso se o quiserem.

Os peixes piratas não estavam a perceber e não sabiam o que dizer. Bonifácio continuou, com a sua voz pausada:

- Já muitos peixes, aventureiros como vocês, vieram à procura e encontraram este tesouro. Mas este é um tesouro de humanos. Que podem os peixes fazer com moedas de ouro? Nada, não servem para nada. Por isso, todos os que vieram voltaram para casa desiludidos e de barbatanas a abanar.

Os peixes piratas ficaram tristes. Será que todo aquele esforço teria sido em vão?

- Nós vamos levar o tesouro - disse, de repente, Roberto - É uma forma de recordarmos a nossa aventura e é um símbolo da nossa coragem e inteligência. Cada vez que olharmos para estas moedas lembrar-nos-emos desta bela aventura. Que dizem?

- Sim! - gritaram todos. E juntos pegaram no baú e levaram-no de volta para casa, onde dividiram as moedas que cada qual guardou como um troféu.

E foi assim que Roberto e os amigos se tornaram os peixes mais ricos de todo o oceano.

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