Era uma vez uma SuperMamã que tinha superpoderes. A SuperMamã tinha muita força, corria muito depressa e até conseguia voar. Mas o seu maior poder era ter sempre razão.
Graças aos seus superpoderes, a SuperMamã saía sempre vitoriosa de qualquer conflito. Fosse ele uma luta contra malvados que queriam dominar o mundo com esquemas elaborados, ou fosse uma discussão filosófica com os filhos sobre os benefícios de ter uma casa arrumada, no final, a SuperMamã ganhava sempre.
Mas, como em todas as histórias deste género, a SuperMamã tinha um superinimigo. Uma fera tão feroz que, em comparação, os lobos pareciam cachorrinhos. Chamava-se Bichano e era o gato dos vizinhos.
Como todos os gatos, Bichano era muito inteligente e sorrateiro. À frente de outras pessoas comportava-se como um gato simpático e meloso. Pedia colo, roçava-se nas pernas de estranhos e ronronava bem alto quando lhe faziam festas. Por isso, toda a gente estava convencida que Bichano era um gato normal e até bastante bem-comportado, comparado a outros felinos.
Mas, longe dos olhares de outras pessoas, Bichano e a SuperMamã travavam batalhas épicas, cada qual usando os seus superpoderes. Sim, Bichano também tinha superpoderes, incluindo a capacidade de mover coisas com a força da mente.
A SuperMamã já tinha avisado o Papá (que não era super, mas quase) e os seus dois filhos para que nunca, em caso algum, nem que a vida na terra dependesse disso, deixassem Bichano entrar em sua casa. O caos e a destruição seriam inevitáveis e graves consequências adviriam para quem não cumprisse.
O Papá e os dois filhos não conseguiam evitar um certo sorriso quando a SuperMamã lhes dizia aquilo – o que acontecia muitas vezes – e uma vez ou outra até brincavam com ela.
- Vai ronronar tão alto que até ficamos surdos - dizia o Papá.
- Vai-se roçar tanto em nós que nos vai fazer desaparecer - dizia o filho mais velho.
- Vai fazer uns olhinhos tão meigos que nos vai derreter, literalmente - dizia o outro filho.
Apesar disso, nunca se tinham atrevido a levar o gato para casa, pois sabiam que o maior superpoder da SuperMamã era ter sempre razão, e também porque nunca tinha surgido uma oportunidade.
Um dia a SuperMamã foi combater mais um vilão num sítio longe e exótico, como Carcavelos, quando o Papá recebeu uma mensagem dos vizinhos. Perguntavam se eles podiam tomar conta de Bichano por umas horas porque tinham um afazer urgente e o gato não parecia estar a sentir-se muito bem desde essa manhã.
O Papá, que adorava gatos, ofereceu-se logo para tomar conta de Bichano e levou os dois filhos para casa dos vizinhos, onde ficariam uma horas até eles regressassem.
Estava tudo a correr bem quando, de repente, o Papá se lembrou que tinha combinado encontrar-se com o canalizador em casa para resolver o problema de uma torneira que pingava.
Que fazer? Não podiam deixar Bichano sozinho, pois tinham prometido olhar por ele, mas não queriam quebrar a regra da SuperMamã. Pensaram durante alguns minutos até que o filho mais velho disse:
- Não deve haver problema.
- O canalizador não deve demorar - continuou o Papá.
- E o Bichano é tão bonzinho - concluiu o mais novo.
Pronto, estava decidido. Levariam o gato para sua casa e, assim que o canalizador saísse, voltavam imediatamente para casa dos vizinhos.
Deitado no colo do Papá, Bichano levantou uma orelha, abanou a cauda nervosamente e quase sorriu.
Quando chegaram já o canalizador esperava por eles à porta, de telemóvel encostado à orelha, tentando contactar o Papá.
O canalizador demorou mais do que o previsto para resolver o problema e durante todo esse tempo o Papá e os dois filhos permaneceram alerta, vigiando atentamente Bichano que, no entanto, parecia não ligar nenhuma ao que se estava a passar e comportava-se pacificamente, como era habitual.
O canalizador foi embora, chegando a altura de pegar em Bichano e levá-lo de volta, mas assim que o Papá esticou os braços para pegar no gato, começou o caos e a destruição anunciados.
Os olhos de Bichano mudaram de cor, de verde para vermelho, os seus dentes cresceram cinco centímetros e as garras, afiadas como facas, saíram ameaçadoramente das patas.
Com o poder da mente, Bichano começou a levantar objetos e a atirá-los por todo o lado. Voaram brinquedos, cadeiras, mesas, bibelots, almofadas, eletrodomésticos, e até o grande sofá da sala, que foi embater com estrondo numa das paredes.
O Papá e os dois filhos, agora com medo, ainda tentaram atirar um saco grande para cima de Bichano, porque tinham visto num documentário que era assim que se controlavam os gatos. Mas o gato feroz rasgou o saco com um só golpe das suas potentes garras.
Em poucos segundos a casa parecia ter sido virada do avesso e sacudida violentamente, como se tivesse passado por ali um enorme furacão ou meninos muito desarrumados, já nada se encontrando no seu lugar.
Satisfeito com a confusão causada, Bichano virou então a sua atenção para o Papá e os dois filhos.
- Finalmente vou vingar-me da SuperMamã! - disse ele com voz de leão.
Bichano encurralou a família a um canto e já se preparava para o massacre final quando, de repente, apareceu a SuperMamã.
Veio a voar, lá de longe, à velocidade da luz, assim que pressentiu que alguma coisa estava errada. E, mais uma vez, tinha razão.
É impossível descrever aqui a grandiosidade da batalha que se seguiu entre a SuperMamã e Bichano, com saltos, quedas, esquivas, murros, socos, chutos e pontapés, defesas, ataques e contra-ataques, trambolhões, acrobacias e centenas de golpes que mais parecia um filme de artes marciais.
No final, a SuperMamã conseguiu agarrar Bichano pelo cachaço e, como todos os gatos, ele ficou imóvel, com a cauda entre a as pernas, sem se conseguir mexer mais.
Com a sua força enorme, a SuperMamã atirou Bichano pela chaminé acima e a fera mais feroz do universo desapareceu de vista.
A SuperMamã olhou para o caos e a destruição que o felino tinha deixado com a sua presença e só depois olhou para os três responsáveis, sentados a um canto, abraçados, verdes de medo.
- Eu bem vos avisei - ralhou a SuperMamã. - Agora, como eu tinha dito, graves consequências virão para os responsáveis.
A SuperMamã pegou numa vassoura, num pano do pó e num aspirador e entregou-os aos três arrependidos que tiveram de limpar e arrumar a casa até estar tudo de volta no seu lugar. É verdade que não foi um castigo muito grande, mas isso é porque a SuperMamã, mesmo quando se chateia, tem um grande coração.
No entanto, a história não pode terminar sem se contar o que aconteceu a Bichano. Depois de ter sido atirado ao ar, subindo vários quilómetros pela atmosfera, começou a cair, a cair, a cair, e parecia que se iria esborrachar no chão. Mas, como todos os gatos, Bichano caiu em pé e direitinho na chaminé de sua própria casa, sem um único arranhão. É por estas e por outras que se diz que os gatos têm sete vidas. Por isso, a SuperMamã que se prepare, porque a guerra ainda não acabou.
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